domingo, 26 de junho de 2016

UM MONÓLOGO SEM EXPECTADORES



A minha essência faz silêncio dentro de mim.
Não me mostro a quem não entra em mim para me conhecer.
Não me revelo a quem não pode me ver.
Minha vida inteira, vivo-a num único dia.
Meus sonhos, desesperos, paixões, choros e risos, angústias e alegrias são só meus, compartilho-as com o outro eu que existe em mim.

Sempre fui a outra metade de mim, o dilúvio que inundou meu deserto, o silêncio que gritou na noite escura, o campo de batalha que morava em meu peito, fui o soldado lutando suas próprias guerras.
Sou pedaços de mim, que juntou as partes imperfeitas para construir o todo sem jeito.
Sou essencialmente humana.

Tenho enchido o meu espírito de coisas que em outro tempo eu deixei de acreditar.
Caminhei muito para entender que o que busquei nunca saiu do lugar.
Deixei arranharem o exterior mas nunca puderam tocar o que está por dentro.

Reciclei os meus textos, mudei as palavras, reinventei meu contexto.
Dei fim aos pretextos, inventei um prefácio, um refrão.
Mudei a poesia, a rima, a estrofe.
As notas rasurei.
Para dar sentido a tudo que não era sentido.

Refiz meus escritos, apontei o lápis e cessei as palavras.
Escrevi tudo o que não foi dito, reescrevi minha vida e reeditei minha história.
Mergulhei onde só eu poderia me encontrar.

Mares turvos, que no mais profundo escondia límpidas águas.
Submergi em mim mesma e emergi da superfície que em mim restava.
E o que hoje flui reflete a busca, descortina o encontro e dá sentido ao caminhar.
Minha águas são claras, como claro é o que há mim.  

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