quinta-feira, 12 de novembro de 2020

DIAS COMUNS



Era uma tarde sem sol, sem som, sem luz. 
Era uma tarde qualquer, pessoas passando, lugares comuns. 
Um livro, um café, um canto. 
Um encanto, uma poesia, um encontro.
 
Percebi que algumas ausências, já não se fazem presente aqui dentro.
Pois já não sou mais quem eu era, meus passos me mudaram.
Pessoas deixaram de ser quem eu as idealizava, para ser simplesmente elas.
 
Tudo aconteceu num dia comum, de pensamentos profundos.
Dias felizes e repletos de paz.
Dias de sorrisos sinceros e flores na alma, com lembranças do que importa e com a certeza de que a gente é capaz de ser feliz.
 
Das ausências, saudades brandas.
Do que passou, lembranças.
No coração nada ruim foi guardado, apenas colocado em outro lugar
Não para relembrar, mas para não mais se perder.
 
De repente, a gente enxerga felicidade nas coisas miudinhas: no caminhar do velhinho, no canto de pássaro, no cheiro na terra, no som da chuva, no riso de criança, nas cores das flores.
De repente a gente aprende que ser feliz é simples.
O aprendizado pode ser doloroso, mas num dia comum, você descobre que as ausências já não doem mais.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

RESPIREI O PERFUME DO JARDIM NO COLORIDO DA MANHÃ



Abri a janela e era primavera, respirei o perfume do jardim e alegrei os olhos com o colorido da manhã.
Era como se o espírito da primavera tivesse atravessado a casa que tinha cores de inverno.

Desci as escadas e sai descalça, pisando no verde da grama, colhendo a beleza as flores, e brincando com a alegria das rosas.

Dei um passeio por entre as árvores, experimentei o sabor das frutas. 

Senti o gosto do tempo, nas asas do vento.


O coração batia em suave compasso, não se incomodando com as esperas.

Experimentei a vida nas cores da primavera, enquanto é tempo de rosas. 

Abri espaço para o novo brotar, floresci.

 

A primavera é o tempo da despedida das frias paisagens e do anteceder dos tons do verão. 

É o tempo de exalar novos aromas nos envelhecidos ramos.

Os dias mais coloridos, mais perfumados. 

As flores sabem que a primavera passa depressa, e apenas florescem.

 

Assim como a primavera quero renascer cada dia mais bela, por dentro, onde tem o que há de mais belo.

Quero a serenidade do sopro do vento no farfalhar das folhas

Quero me renovar a cada estação, exatamente como a primavera que nunca tem as mesmas flores. 

 

Guardo na memória o cheiro do perfume das rosas. 

Das flores, minhas lembranças mais bonitas.

Nos dias em que chegar o inverno e não tiver o perfume das flores, sentirei falta das cores.

Mas as lembranças da primavera continuarão comigo, na esperança que novas flores irão colorir o meu jardim.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

NOVOS ENCONTROS COM VELHOS MOMENTOS



Moro no mesmo lugar desde que nasci.

Hoje a tarde faltou luz, e eu fui ao pet shop comprar comida para os pets, na ida não me atentei, fui no automático como costumamos viver. Na volta, olhando menos para dentro e mais para fora, comecei a observar e vi a rua da minha infância.

É a mesma rua que eu moro, que passo todos os dias, mas que faz tempo que eu não via.

 

Sem o barulho da serra que a serralheria produz, das máquinas da mecânica, dos rádios altos ou mesmo das TVs, e no meu silêncio interior, ouvi o som das crianças brincando, das pessoas fora das casas conversando, do martelo da construção, dos pássaros cantando e me dei conta que ouvia o barulho da minha infância.

O som das tardes após chegar da escola e correr para brincar os amigos. Minha mãe nunca me obrigou a fazer o dever de casa na hora que ela queria, eu só precisava fazê-los. Comia se tivesse fome, e tomava banho a hora que entrasse em casa, era uma infância feliz, cheia de liberdade, cheia de dias de luz.

Eu rodava o mundo de bike, jogava vôlei na rua, brincava com os meninos, escorregava no barranco de barro, fazia fogueira nas noites frias e ficava na calçada até tarde nas noites quentes. Nossos pais não se preocupavam, pois os pais cuidavam dos filhos uns dos outros.

Há muito eu não relembrava esses momentos.

 

Existe um sentimento que nos percorre o corpo e nos toca a alma, quando nos vem à lembrança da infância.

Hoje as lembranças me trouxeram saudades, não sei se da infância ou simplesmente do que ela representava: meus pais aqui comigo, meus irmãos em casa, a casa cheia, os amigos que estavam á distância de um grito no portão.

Trago marcas, de uma infância cheia, repleta de dias de luz.

As preocupações eram a ordem do dia: do que brincar hoje, ter dever de casa pra fazer, o prato que eu ia pedir para a mãe cozinhar, os brinquedos e brincadeiras que nós mesmos criávamos.

Eu senti o cheiro da minha infância, do feijão temperado da minha mãe, da água sanitária da casa limpinha, do sabonete recorrente que a gente usava, do cheiro de terra, do cheiro de lama, do cheiro de chuva.

Nada disso foi embora, está tudo lá em algum lugar dentro de mim, mas já não são mais as mesmas, nós já não somos mais os mesmos.

 

Os tempos de infância nos lembram demasiadamente a inocência e as mais lindas memórias da vida, porque é nela que mora toda docilidade de uma inocência que um dia enfeitou a nossa mais pura essência.

Fui remando até à infância, deixando-me boiar na recordação.

E num dia sem luz, senti saudades da infância, de momentos cheio de luz, ao ter novos encontros com velhos momentos.

domingo, 19 de julho de 2020

O TEMPO É UMA CORRIDA QUE NÃO VOLTA




“Nunca me arrependi de nada do que fiz”
Acho triste e até arrogante quando ouço alguém afirmar isso.
Não há como não levarmos conosco arrependimentos, não querer voltar atrás para apagar ou concertar algo.
Ah se eu pudesse, voltaria em tantos momentos.

Há decisões ou atitudes que por menor que seja, muda a nossa vida inteira e toca a vida de outras pessoas de uma maneira que, muitas vezes, não podemos entender.
Queria poder voltar o tempo, mas o tempo é uma corrida que não volta.
Poder segurar mãos que soltei, e soltar mãos que segurei mais do que deveria.
Andar por caminhos que não fui, e desviar a rota de lugares por onde não deveria ter passado.
Conhecer pessoas que nunca encontrei, e que a vida me desse a oportunidade de alguns desencontros de encontros acontecidos.

O tempo não é algo que se possa voltar atrás e ele passa como passa o vento.
Eu queria dar alguns abraços que deixei de dar e me certificaria uma vez mais, a quem desnudar minha alma.
Eu poderia ter olhado mais vezes para trás e para o outro. E muitas vezes olhei demais, deveria ter olhado mais para mim.

O tempo é soberano no ato de passar
Deveria ter silenciado mais vezes, o amor também é feito de silêncios.
E ter entendido que algumas palavras poderia ter mudado todo o sentido do momento.
Eu pediria mais perdões, errei tanto e com tantos.
Não mudaria às vezes que perdoei, mas gostaria de distribuir mais perdões se possível fosse.

O tempo passa depressa demais, como uma flecha que atinge sem piedade.
Somos demasiadamente humanos ou, muitas vezes, desumanos.
Mas não há como fugir dos caminhos das nossas escolhas, das responsáveis e das consequências.
Nós somos a soma das nossas decisões, no entanto, a conta não leva em consideração somente nossa vida, mas daqueles que nos cercam e que de alguma forma, direta ou indiretamente são atingidos por nossas escolhas.

sábado, 23 de maio de 2020

DEIXE O SOL ENTRAR E SEJA A SUA PRÓPRIA POESIA




A vida já não está no lugar, tudo anda tão diferente, nada é mais igual.
Nossos sonhos foram podados, e os projetos já não encontram terreno fértil, estamos em um tempo vazio.
Vazio de abraços, de afagos, de toques.
Vazio das presenças e cheio das ausências.

A vida é feita de coletivos, de encontros e afetos, com mãos dadas e abraços demorados.
Cercas, muros e grades interromperam o nosso dia, e o tempo agora se gasta em horas demoradas.
Estamos espreitando o mundo do nosso parapeito, protegidos em nossas trincheiras.
Sorvendo a esperança e deixando entrar apenas o sol.

O sentido de tudo está andando pelas entranhas do nosso consciente, chegando fundo, onde precisamos mudar.
Que nosso olhar enxergue as mudanças e a receba como aliada.
Que aprendamos algo novo a cada dia e que a transformação seja de dentro para fora.

Quando não podemos olhar para fora, somos obrigados a olhar para dentro.
Dói, mas vai passar, sentir-se angustiado com as incertezas nos invadindo é ruim, mas tudo bem, você não precisa ser forte sempre, não se cobre, você não está sozinho, não se culpe, tome seu tempo.
Se perceba nos detalhes, de um passo para dentro de si, desvende-se e deixe o sol entrar.

Observe o efeito que a dor cause e o tanto que é desconfortável, permita-se sentir todos os sentimentos.
Te demores no lugar no outro, personifique a compaixão.
Reavalie a sua missão é permita o tempo passar por inteiro.
A vida não vai nos trazer sempre as mesmas questões, os mesmos conflitos, as mesmas experiências.
Deixe a paisagem externa se cobrir por seus espinhos. Floresça você, para dentro de si.

Que os sentimentos encontrem ressonância para compreender o que é breve.
Se não podemos ir, que o amor possa chegar, entrar e sentir-se à vontade.
Viva! Viver é surpreender-se e compreender é cortesia.
Que tudo pareça um breve momento, se alegria - felicidade, se dor - aprendizado.

A dor e a esperança encontram lugar no exílio, suas vozes tem muitos ecos. Qual é o que você quer ressoar?
Nunca estaremos totalmente prontos, mas preparar-se é o caminho.
Vai passar, aproveite o dia, deixe o sol entrar e seja a sua própria poesia.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

A FELICIDADE ENCONTROU SAÍDA, MAS QUIS FICAR


A felicidade veio, chegou sem motivos.
Eu a princípio não a reconheci, não nos encontrávamos com frequência.
Ela entrou, eu não sabia como recepciona-la, estranhamente me senti desconfortável, poucas vezes estivemos frente a frente.

De mansinho ela foi se aconchegando, abrindo espaços, se tornando presente.
Eu cuidei dela, tratei-a com zelo. Deixava sempre a janela aberta para que o vento soprasse sempre a seu favor.
Não corri atrás dela, deixei-a livre. A porta também deixei aberta, não quis prendê-la, a felicidade sentindo-se livre decidiu ficar.

A felicidade me ensinou a encontrá-la nos pequenos detalhes, na vida cotidiana, na alegria do outro, nos sorrisos que eu semeava.
No final do dia sentávamos na varanda e falávamos sobre amenidades.
Ao lado dela descobri que há um espaço entre a alegria e a tristeza, e é nesse espaço que ela mora, só que nós só nos preocupamos com as extremidades.

Ela me ensinou tanto...
_ Que se eu segura-la em minhas mãos, ela escorrerá entre os meus dedos.
_ Se eu fechar a porta, ela baterá em outro lugar.
_ Que é preciso correr riscos, se der certo: felicidade, se não der: sabedoria.
_ Se os meus ventos não soprarem com leveza, eles varrerão a felicidade para longe.

Desde o dia em que ela entrou pela porta, a felicidade me virou pelo avesso. Aos poucos me mostrou que ela vem de dentro, mas quando insisto em não vê-la, ela bate a porta e finge vir de fora.
Hoje entendo que a felicidade não é permanente, ela não faz morada.
Mas quando você a sente e percebe a simplicidade contida nela, descobre que ela está onde você quiser.

Deixei a porta aberta, a felicidade encontrou saída, mas quis ficar.

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