sábado, 22 de abril de 2023

PEGOU O ÚLTIMO TREM E PARTIU

 



Ela pegou o último trem essa noite, não deixou rastros, partiu. 

Foi para muito longe

E nem se despediu

Foi para onde não pode mais ser alcançada. 

 

O vão entre o que se quis e o acontecido foi profundo demais. 

Ela não suportou, entrou no último trem e partiu.

Não deixou laços, não deixou amarras.

Apenas se foi, solta para algum lugar que não se sabe onde

 

Ela não quer ser encontrada

Quer ficar só pois está sobrecarregada

Ela carregou sobre si os entulhos de uma vida inteira. 

Não pode mais resistir, desabou, juntou seus pedaços, fez as malas e partiu. 


Foram feitos tantos remendos em seu avesso 

Que a dimensão do seu pequeno mundo cedeu, rasgou. 

Restou à ela ir embora. 

Ela partiu sem passagem de volta, não fará movimento de retorno, ela não sabe voltar.



quarta-feira, 5 de abril de 2023

CARREGADOS DE TEMPESTADE, NOSSA NATUREZA ESTÁ NUBLADA

 




Nada tem nexo, tudo é apenas um reflexo “Millor Fernandes”


Somos o reflexo daquilo que nos ilumina, invariavelmente, se o que nos “ilumina” são trevas, é a escuridão que vamos refletir.

Somente o espelho da consciência mostra, de fato, quem somos. Os outros espelhos mostram, apenas, egos refletidos.


Estamos vivendo uma atmosfera carregada de tempestades, e a nossa natureza está nublada.

Sem poder olhar adiante, não estamos encontrando a direção, estamos perdidos no meio do caminho, e a chegada está incerta.


Somos o reflexo da sociedade em que vivemos. 

Somos o reflexo de cada pessoa que passa por nós, pessoas múltiplas, de diferentes origens e contextos sociais, de percursos e de uma infinidade de histórias.


Erguem-se dias difíceis a cada nova manhã, o que está acontecendo conosco? Divididos e raivosos. O mundo está ao contrário.

Tempos difíceis, em que  temos a vontade e a necessidade de viver, mas não a habilidade.


São tempos de larga mudança nos valores, passamos por mudanças bruscas que pensamos  - nos transformaria - e transformou, só não foi para melhor. 

A velocidade com que a informação flui no mundo moderno, torna cada dia mais complexa a manutenção do que conhecemos por relações humanas. Pessoas se tornaram descartáveis. E ao não terem serventia, simplesmente descarta-se.


No livro “Amor Líquido” Bauman escreve:

“Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis: um é segurança e o outro é liberdade. Você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos. Você precisa dos dois”.


Não temos liberdade e nem segurança, o que dirá os dois.

Em tempos de relações imediatas, pautadas no momento e no que podemos obter, esquecemos de ser. De ser para nós e ser para os outros, lembrando que somos parte ativa das vivências que construímos e das experiências que compartilhamos.

Em tempos difíceis substituímos abraços por sorrisos, Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água.


A tecnologia que foi feita para nos aproximar, também nos distanciou, e a distância que impusemos ao mundo, trouxe consigo uma mudança permanente no modo como a sociedade se desenvolve, e, na maneira como ela se seguirá.

As pessoas seguem a correnteza, e entre desapegos e desafetos, vamos nos afogando num mar de incertezas, onde ninguém sobreviverá.


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