quinta-feira, 7 de setembro de 2017

TRAVESSIA COMPLETA, EU INTEIRA



Ao partir fui em busca dos meus pedaços.
O tempo era de travessia e no caminho, o caminhante era transformado.

Foi um longo caminho.
Estradas empoeiradas, buracos sem fim;
Curvas sinuosas, vielas estreitas
Becos sem saída e ruas escuras.

Fui caminhante sem escolha,
Andarilho perdido sem ponto de partida.
Seguia o destino sem rumo de chegada.

Senti fome, tive sede, solidão e desalento.
Nas passadas, pedras machucavam os meus pés;
Sol e frio cortavam o meu rosto
O sono por esmola dominava o meu corpo.

Meus pensamentos eram rasos 
Minhas lembranças profundas
As poucas lágrimas que escorriam
Inundavam todos os meus passos.

Me perdi ao partir
Deixei aqui tudo o que era eu.
No caminho fui recompondo as partes,
Me reinventando com pedaços que eram meus.

Eu com meu imenso vazio
Não sabia onde estava indo
Apenas morava em mim a certeza de chegar

No trajeto fui tirando tudo o que não me cabia mais
Atravessando as pontes que me separavam de mim
A vida foi entrando nos eixos, criando formas, criando novos conteúdos.

Rastros e pegadas não fizeram meu caminho
Olhar para a frente foi que o fez
Ao lutar minhas batalhas, encontrei a paz em meio às minhas guerras.

O Rio que corre manso não se apressa porque sabe que ora ou outra vai chegar
Assim me encontrei, sem pressa
Partes de mim fui deixando no percurso

Travessia completa, eu inteira.

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