quinta-feira, 27 de agosto de 2020

NOVOS ENCONTROS COM VELHOS MOMENTOS



Moro no mesmo lugar desde que nasci.

Hoje a tarde faltou luz, e eu fui ao pet shop comprar comida para os pets, na ida não me atentei, fui no automático como costumamos viver. Na volta, olhando menos para dentro e mais para fora, comecei a observar e vi a rua da minha infância.

É a mesma rua que eu moro, que passo todos os dias, mas que faz tempo que eu não via.

 

Sem o barulho da serra que a serralheria produz, das máquinas da mecânica, dos rádios altos ou mesmo das TVs, e no meu silêncio interior, ouvi o som das crianças brincando, das pessoas fora das casas conversando, do martelo da construção, dos pássaros cantando e me dei conta que ouvia o barulho da minha infância.

O som das tardes após chegar da escola e correr para brincar os amigos. Minha mãe nunca me obrigou a fazer o dever de casa na hora que ela queria, eu só precisava fazê-los. Comia se tivesse fome, e tomava banho a hora que entrasse em casa, era uma infância feliz, cheia de liberdade, cheia de dias de luz.

Eu rodava o mundo de bike, jogava vôlei na rua, brincava com os meninos, escorregava no barranco de barro, fazia fogueira nas noites frias e ficava na calçada até tarde nas noites quentes. Nossos pais não se preocupavam, pois os pais cuidavam dos filhos uns dos outros.

Há muito eu não relembrava esses momentos.

 

Existe um sentimento que nos percorre o corpo e nos toca a alma, quando nos vem à lembrança da infância.

Hoje as lembranças me trouxeram saudades, não sei se da infância ou simplesmente do que ela representava: meus pais aqui comigo, meus irmãos em casa, a casa cheia, os amigos que estavam á distância de um grito no portão.

Trago marcas, de uma infância cheia, repleta de dias de luz.

As preocupações eram a ordem do dia: do que brincar hoje, ter dever de casa pra fazer, o prato que eu ia pedir para a mãe cozinhar, os brinquedos e brincadeiras que nós mesmos criávamos.

Eu senti o cheiro da minha infância, do feijão temperado da minha mãe, da água sanitária da casa limpinha, do sabonete recorrente que a gente usava, do cheiro de terra, do cheiro de lama, do cheiro de chuva.

Nada disso foi embora, está tudo lá em algum lugar dentro de mim, mas já não são mais as mesmas, nós já não somos mais os mesmos.

 

Os tempos de infância nos lembram demasiadamente a inocência e as mais lindas memórias da vida, porque é nela que mora toda docilidade de uma inocência que um dia enfeitou a nossa mais pura essência.

Fui remando até à infância, deixando-me boiar na recordação.

E num dia sem luz, senti saudades da infância, de momentos cheio de luz, ao ter novos encontros com velhos momentos.

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