Há uma árvore no fim da rua que, que no outono, veste-se de fogo.
Suas folhas não caem — dançam.
Espalham-se em rodopios dourados, como se o vento as ensinasse a arte de deixar ir.
O outono é assim: um pintor que não tem medo do vazio.
O outono colore o mundo de âmbar e carmim, mas sussurra, em cada tonalidade, que a beleza está também no desapego. As copas, outrora cheias, aprendem a se revelar em nervuras e troncos retorcidos. Há uma verdade nos galhos nus: só perdendo o que se carrega é possível enxergar o próprio esqueleto, a estrutura que sustenta a vida mesmo quando a luz se vai.
A estação chega com passos de veludo, trazendo tardes curtas e céus de chumbo.
O ar fica frio o suficiente para que cada respiro lembre: tudo é passageiro.
As folhas secas, pisoteadas na calçada, estalam como memórias frágeis.
Algumas são levadas pelos riachos formados pela chuva; outras se acumulam em cantos, esperando virar terra.
O outono não é um fim, mas um ritual de entrega.
A árvore não chora suas folhas — sabe que, para voltar a vestir-se de verde, precisa primeiro ficar nua.
Precisa confiar no silêncio do inverno e na promessa sutil de raízes que trabalham no escuro.
Assim é a vida — uma colheita de momentos que precisam ser liberados.
Há dores que pesam como maçãs maduras nos galhos: é preciso deixá-las cair para que não apodreçam em nossas mãos.
Há amores que se despedem em tons de laranja, leves e breves, como a luz oblíqua que doura os campos ao entardecer.
Aprendemos, com o tempo, que segurar demais sufoca.
Que a plenitude está tanto no que se tem quanto no que se ousa soltar.
Mas o outono também é festa. É a uva que explode em doce nos vinhedos, o trigal que se inclina após anos de crescimento, a última dança dos pássaros antes da migração.
Ele nos lembra que há beleza na maturidade, naquilo que, após florescer, se transforma em fruto.
Mesmo o que parece morte é apenas mudança de estado: a folha que vira adubo, a semente que dorme sob a geada, o coração que, após partir-se, descobre novas formas de amar.
Quando o primeiro vento gelado cortar o ar, observe.
Há sabedoria na árvore que não se envergonha de seus galhos descarnados.
Há coragem na terra que aceita ser coberta pelo manto do desfalque, sabendo que, sob a superfície, algo germina.
O outono não é nostalgia — é fé disfarçada de renúncia.
E a vida, em sua essência, não pede que sejamos eternamente verdes. Apenas que, como as folhas, saibamos brilhar intensamente antes da queda... e confiar que, após o último suspiro dourado, virá o tempo de brotar de novo.