O rio ainda que
transbordante nada possui, pois tudo que ele recebe, se vai tão
rapidamente...
O rio com seu imenso
vazio sabe para onde ir, e não se apressa, sabe que ora ou outra vai
chegar.
Ele conhece a calmaria,
e tem intimidade com a tempestade, tudo suporta, tudo sofre, tudo
espera. Pois sabe que seu curso já foi escrito e seu caminho é um
só, seguir seu destino.
A imensa solidão não
impede o rio de correr, de oferecer suas águas àqueles que o
maltrata. De ser o frescor a quem em seu leito se achega.
Ele a todos recebe,
bons ou maus tem lugar em suas águas e em seu imenso vazio.
Das margens não é
possível conhecer o rio, nem ele a si mesmo conhece, pois não se
encontra duas vezes com as mesmas águas. Elas vem e vão, deixando-o
só, com suas muitas lembranças.
Quando suas águas
encontram dificuldades para passar, ele aponta um novo caminho.
Ensina as águas a
atravessar as pedras, a mudar a direção.
O amor, assim como o rio faz com suas águas, aponta um novo caminho toda vez que encontra
obstáculos.
Bertolt Brecht
sabiamente citou "Todo mundo chama de violento a um rio
turbulento, mas ninguém se lembra de chamar de violentas as margens
que o aprisionam"
A margem não se
importa com o rio, ela o oprime, não o deixa correr, ela se estende
por todo o rio, mas não deixa o rio sobre ela se estender.
Mas o rio não se
importa, se sente feliz em seu imenso vazio, se sente em paz no seu
imenso silêncio, sabe lhe dar com o barulho dentro dele, e se sente
útil por refletir a luz das estrelas e fazer a noite mais clara.
Jamais o rio se
encontrará com as mesmas águas, essas já passaram.
Outras haverão, essas
não mais. Ele espera ansioso por novas águas.
Mas as muitas águas
não conseguem apagar o imenso vazio que o rio traz.
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